Chego perto
dos 40 anos de canção. E é claro que tenho algo a dizer sobre isso de cantar na
Igreja. Não é que saiba tudo, mas quem enfrentou anos de paciente exercício
deste ministério e ouviu de tudo a favor e contra tem algo a partilhar. E é o
que estou fazendo, como sacerdote e como professor de comunicação.
Uma canção
vai muito mais longe do que uma palavra, não é melhor nem mais substanciosa do
que uma palavra. Apenas a enfeita e projeta um pouco mais, por isso, sempre que
possível devemos trazer a canção para perto das nossas pregações.
Quem se faz
cantor e privilegia a canção faz uma boa coisa. Quem quer ser pregador e
eventualmente cantar tornando a canção secundária faz uma boa coisa.
Há profetas
que falam e há profetas que cantam, e há quem faça as duas coisas. Eu faço as
duas coisas, mas se tiver que escolher seguramente escolherei pregar.
A canção pode
e deve esperar. O bispo que me ordenou não pôs nem um violão, nem gaita nem
piano em minhas mãos, pôs uma Bíblia, um pão e um cálice.
Daquele dia
em diante entendi que deveria resistir à tentação de cantar só porque alguém
deseja me ouvir cantando.
Se o que
tenho a dizer não puder ser dito cantando e se a letra da canção não ajudar o
texto bíblico ou o que o Papa ou os bispos mandaram dizer eu simplesmente não
canto.
Minha canção
seria um enfeite errado no lugar errado, atrapalharia a Palavra da Igreja.
Se, porém
minha canção ajudar então eu canto. Existe uma hora em que o pregador pode
cantar e há uma outra em que ele não deve cantar, mesmo que não seja
compreendido nem aplaudido pelos que querem ouvir sua canção.
Jesus não
precisa de cantores e sim de anunciadores de seu evangelho. Se pudermos
anunciá-lo cantando, cantemos. Se cantar ficar tão importante que a canção
abafa o sermão ou a leitura do dia suprima-se a canção e silenciem os cantores.
O povo não
vai à missa para cantar. Vai celebrar. E é perfeitamente possível celebrar sem
cantar, infelizmente também é possível cantar sem celebrar. Isso acontece
quando o texto da missa está dizendo uma coisa e os cantores outra, só porque o
grupo gosta daquela melodia. Tais cantores não estão celebrando, estão apenas
enchendo a missa de música errada.
Nós que
cantamos devemos pedir a Deus e á Igreja que nos corrijam se estamos dando
excessiva importância ao canto nas igrejas. A canção continua sendo o chantili
do bolo dá-lhe um sabor especial, mas não pode substituir o bolo.
Nenhuma
canção tem tanto conteúdo! Entre cantar e falar, falar continua mais
importante.
Que nós
cantores aprendamos a falar e pregar. Sobretudo se formos sacerdotes!
Os bispos não
ordenam cantores. Ordenam pregadores!
Pe. Zezinho, SCJ |